Em uma sala de aula de dança. Perto do fim da aula dois dançarinos estão
sentados no chão, encostados na parede. Cansados, suados e com dores, conversam
calmamente. Um observa um casal, avido por um movimento que ele possa roubar
imitar. O outro avido por um olhar, um sinal, de qualquer garota bonita que ele
espera que o possa notar.
Os olhos deles caem sobre a mesma garota. A dama de Ébano. Uma linda
dançarina, de pele negra, olhos escuros, corpo voluptuoso, um modo sensual de
caminhar, de andar. Seria ela a mais bonita ali? Talvez, se não fosse seu gênio
de tempestade. Séria a melhor dançarina? Se algum dia ela se deixar conduzir...
Quem sabe...
- Por que não gosta dela? Ela é linda. Negra, corpo escultural, cabelo
cacheado e aqueles olhos que me desconcentram -- Falou o primeiro com certo ar
sonhador.
- Não encaixamos. Digo sabe química. Quando você conhece alguém e gosta,
o abraço é perfeito. Você sabe que vão dançar bem assim que abraça, temos
exatamente o oposto. Ela dança muito bem com qualquer um. Mas não comigo. Sim
eu sei metade da culpa é minha.
- Eu dançaria, mas ela sempre reclama do ritmo. Não consigo
acompanha-la. Sempre travo e passo vergonha. Na verdade ela se irrita se o
movimento não for perfeito. Você já consegue então me represente.
- Se eu olhasse para o corpo dela como você o faz, realmente não
conseguiria nem o passo mais básico. Mas ela gosta ainda menos de mim que de
você. Você viu a cara de profundo desagrado da ultima vez.
- A primeira vez ela te largou no meio, da ultima ela só te detestou,
mas não te largou já uma evolução.
- Olha já dancei com mais de 500 damas, e ela foi a que eu menos gostei.
Por que em nome da Deusa eu voltaria a dançar com ela?
- Porque meu caro se você for capaz de dançar bem com ela. Será capaz de
dançar bem com qualquer uma. Afinal ela te odeia você a detesta. Então você e
ela estão em outro nível.
- Sim para mim dança é a junção de técnica e emoção. Se a emoção
atrapalha a técnica, então se eu dançar bem com ela, minha técnica vai evoluir.
- Sem falar que ela é linda.
- Sei sei. Nada é fácil!
- Você quem disse. Se for o caminho fácil, certamente é o caminho
errado!
A musica começou.
Rumo à musa de ébano.
O dançarino caminhou
Conflitantes sentimentos
Os olhos cruzar
Mesmo assim
Juntos eles começaram a dançar
Ele sorriu
Era uma dança
Era uma musica
Era uma dama
E ele precisava bailar
Concentração, tensão.
A consciência de cada movimento
A exatidão de cada momento
Do ritmo exato
Do passo preciso.
Ao terminar,
Parecia que o peso do mundo
Saíra de seus ombros
Uma coisa é dançar
Outra é cada mínimo movimento controlar.
Para ele dançar é tecer poesias
Dessa vez foi uma parnasiana.
De métrica e rima
Porém um tanto fria e sem emoções
Ao fim da musica os rostos estavam quase colados... Ele ainda sorria e o
rosto dela era quase bonito aos olhos dele. Porém algo a irritava. Não foi tão
ruim quanto da ultima vez, mas ainda falta muito para ser bom. Se ele dançou
bem. Não saberei dizer,
E mesmo infeliz ele decidiu, com aquela dama de ébano muitas vezes mais
ele iria dançar. Não era ela com quem ele queria dançar, mas certamente ela o
ajudaria a melhorar, mesmo sem saber. Por teimosia ou orgulho, ele decidiu fazer
aquela dama sorrir enquanto dança.
Mesmo que isso leve o tempo que parece que vai levar...