quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Circulo de Aço Negro

Dois magos decidiram tentar a sorte no bar mais pé sujo da cidade. O lendário Pé de Troll.

Pé sujo. Um bar, boteco ou algo assim com cara de sujo, e esse tinha cara de sujo e acabado. Provavelmente o local das ultimas palavras de algum desafortunado. Olhando do lado de fora parece que a qualquer momento sairia alguém semimorto ou morto-vivo do bar. O dono era um Troll de apenas um olho só, com um dos braços de madeira mais negra que a noite, tinha varias cicatrizes de queimadura e um enorme machado de lamina dupla nas costas... Isso ajudava muito a cara do lugar. Mas a cerveja era barata e isso era tudo que importava essa noite.

Ao entrar a surpresa. O lugar cabia umas 100 pessoas, mas tinha umas 200 garotas, lindas, de todas das universidades ou dos colégios próximos. Trinta rapazes dentro e muitos e muitos do lado de fora, conversando e bebendo. O Troll atendia a todos com um grande sorriso, mas impedia alguns rapazes de entrar. As canecas voavam sozinhas, ou melhor eram regidas por duas damas, uma de manto verde que ficava na penumbra, como se observando o salão e uma jovem...

O mago negro havia sido paralisado por uma feiticeira ruiva baixinha. Que encantava canecas de cerveja.

Mago de Metal: Meu amigo você gosta de viver perigosamente...

O mago negro continuava distraidamente olhando para uma das feiticeiras garçonetes. Era ruiva, cabelos longos, um vestido menor que minha vergonha e um sorriso mais provocante que meu mal humor.

Mago Negro: Não fiz nada ainda. E porque diabos tem uma arvore no meio da taverna?
Mago de Metal: Porque a esposa do troll é uma dríade. Nunca ouviu falar da lenda do Troll obstinado e da Driade raivosa? Bem se eu fosse você leria aquilo.

Uma cerveja = 12 reais.
Uma cerveja, por favor, = 6 reais.
Boa noite, por favor, uma cerveja = 1 real.

Mago Negro: Ele é um piadista? Com aquela cara, quem diria... A esposa dele é uma dríade?
Mago de Metal: Não, acho que ele não sabe o que é uma piada mesmo que ela o mordesse. E sim a esposa dele é uma dríade. O bar foi construído ao redor da arvore. Na verdade foi construído para protegê-la. E eu falei para ler o que estava escrito abaixo.

Não mecha com as garotas ou será banido
Não abra livros ou será banido
Não use magia ou será banido
Não mexa com Dina, ou será espancado, esquartejado, picado, estuprado, queimado e enforcado. E devolvido a sua família. Afinal somo civilizados!!!!!

Mago Negro: Quem é Nina?
Mago de Metal: A filha dele.

Reza a lenda que um dia um Troll se apaixonou por uma dríade. A rainha da floresta. Antiga, sábia. A arvore dela era a maior da floresta, uns cinquenta andares ou mais. Antiga, nobre. A alma da floresta. Não havia dríade mais forte. E logicamente ela dispensou. A dríade era mais antiga que o mais remoto dos antepassados do Troll.  
Ele voltou no outro dia, e no outro, e no outro e assim por anos e anos, mais anos que a vida dos tolos humanos, sempre ao amanhecer. Dizem que ela dava uma fora diferente nele a cada dia. Todos conheciam a história e os espíritos, animais, insetos vinham apreciar. Sempre uma resposta diferente, sempre um não! Dizem que sempre uma poesia.
Então os homens chegaram à orla da floresta. Com presentes para as fadas, com oferendas aos deuses, com truques e sortilégios. O Troll liderou seus irmãos. Prepararam as armas e esperaram. Mesmo assim todos os dias ele vinha. Todo amanhecer uma nova poesia. Um novo não. Mesmo quando eles mostraram sua face maligna, mesmo quando a guerra iniciou.
Aquele Troll, não era o maior, não era o mais forte, e mesmo assim era o primeiro a matar e o ultimo a recuar. Ele lutava contra exércitos, contra magos e cavaleiros. Ele lutou liderando seus irmãos. Ele lutou quando os espíritos recuaram, ele lutou quando os Trolls desistiram e no fim ele lutou sozinho. Mais calma já chego lá.
Nos anos finais daquela guerra apenas díades, que ligadas as suas arvores não poderiam fugir, apenas deuses que mesmo fracos estavam ligados aos seus rios, seus bosques, ficaram ao seu lado.
Um dia a floresta pegou fogo, o maior dos incêndios. E o Troll ficou correndo até o rio e trazendo água. Trolls temem o fogo, mais que vampiros temem a luz. E mesmo assim ele voltou e defendeu a arvore de sua amada do fogo. No fim ele estava quase morto, ele tinha pegado fogo e desesperado ainda levava água para sua deusa. Mesmo perdendo um olho, mesmo quando seu braço caiu, mesmo quando estava se arrastando com todo seu corpo coberto pelo fogo, ele ainda se preocupava apenas com a dríade. O deus do rio vendo tal cena usou de seus últimos poderes e lhe concedeu um desejo. E nosso simpático dono desejou salvar a arvore. De toda aquela imensa floresta, Apenas essa arvore sobreviveu aquele incêndio. Dizem. Veja bem. Dizem que a arvore andou. Digo A dríade não poderia se distanciar de sua arvore, então ela fez a arvore andar para salvar aquele pé fedorento.
Levou anos para nosso amigo acordar. E ela o cuidou e continuou declamando poesias a cada amanhecer. Ele estava bem mais para lá que para cá e não se engane fogo é uma das poucas coisas que machucam Trolls.
 Perto da arvore começou a surgir uma cidade e o Troll finalmente acordou. A dríade, como se nada tivesse acontecido, continuou a declamar poesias ao amanhecer e dizer não e, além disso, o expulsou de sua clareira,  como não havia mais floresta era uma clareira bem grande. Ele continuou a vim todos os dias, a cada e todo amanhecer. Quando os humanos quiseram derrubar a arvore o Troll negociou com eles e se tornou proprietário dessa terra e defensor da cidade. O grande herói dos espíritos tornou-se um vil mercenário. Ele traiu os espíritos, traiu sua honra, ele traiu seus irmãos, ele traiu até mesmo a sua dríade que o odiou. Ele traiu a todos para salva-la.

Te amar é trair a tudo que me cerca... A todos que me amam
Mais não te amar. Não te amar é trair a mim mesmo

A cidade cresceu e chegou até as terras do Troll. E uma tenebrosa doença estava preste a vencer nossa dríade...

Um dia ela notou que o esperava a todo amanhecer. Não havia mais arvores mais florestas, ou animais, sequer espíritos. Todos seus súditos, amigos, conhecidos se foram, fugiram ou morreram, mas aquele maldito teimoso Troll, continuava e até onde o vento lhe contou, para outra, nesses mil anos, ele nunca olhou... E ela passou a espera-lo. Um dia ela disse que queria a musica e a vida uma ultima vez. Que em breve a tristeza a levaria para junto de seus entes. Que a tristeza a estava matando... Que em breve ela o abandonaria.

O Troll. Pensou. E pensou. E com um machado voltou.

Mago de Metal: Sim. Trolls costumam pensar com o machado.

Um machado e muitos magos. Ela aceitou o destino. Ser morta por aquele que por eras a amou. Não era um modo tão ruim de morrer...
Eles cortaram muitos galhos. Arraçaram muitas folhas deram formas aos galhos mortos, moldaram a madeira. E aos poucos onde havia uma imensa arvore quase morta, surgiu uma taberna completamente feita de madeira e folhas. Em seu centro havia uma arvore, bem menor, ainda sim uns cinco andares. Uma taberna. O pé de Troll. Teve até casamento na inauguração.

Mago Negro: Por que pé de Troll?

De repente, como que para responder a pergunta um mago é expulso da taberna e recebe um pé na bunda.

Mago de Metal: Mesmo com aquele machado ele usa o pé. A esposa dele não gosta de sangue.

Mago Negro: Então a ruivinha?
Mago de Metal: Meio dríade meio Troll...! E se chama Dina

O Mago negro se levanta e vai em direção a

Mago de Metal: O que diabos vai fazer?

Mago Negro: Ser espancado, esquartejado, picado, estuprado, queimado e enforcado. Depois devolvido a minha família. Afinal os donos são civilizados!!!!!

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